por Rui Silva Pereira
Fez em 2020 80 anos a realização do I campeonato de Lisboa de equipas, que reuniu 8 formações, incluindo 2 equipas representativas dos dois maiores clubes da capital. No seu número 42, publicado em Junho de 1940, a Revista Portuguesa de Xadrez (1ª série) analisa o I Campeonato de Lisboa por Equipas, que decorreu com a participação de Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Portugal, Instituto Superior Técnico, Estoril Plage, Vacuum Sports Club, Instituto Britânico, Faculdade de Direito e Portugal e Colónias. Favorita à partida e vencedora no final a equipa do Benfica, que juntava nas suas fileiras o Dr. António Maria Pires, Gabriel Russell, João de Moura (que venceu todas as partidas), Raul Q. Rosa, Alfredo Araújo Pereira e Carlos Araújo Pires. Nomes conhecidos também nas equipas do Técnico e do Sporting, os segundo e terceiro classificados: Peter Braumann, J. Gonçalves e Nandim de Carvalho, nos estudantes; Alfredo Masoni da Costa e João Maria da Costa (que tinha sido o 1º Presidente da FPX, entre 1927 e 1936), nos leões. Não obstante, os melhores resultados (em percentagem) de uma e outra equipa foram de jogadores menos credenciados: Correia Neves, no Técnico, e Virgílio Costa, no Sporting.
Já no Estoril, foram os mais conhecidos Francisco Lupi e Ronald Silley, os que mais se destacaram. No primeiro tabuleiro, a equipa da linha apresentou Bill Fuchs, que pertencia a uma família judia escapada da Alemanha em 1938 e que viria mais tarde a emigrar para os Estados Unidos.
Não é totalmente claro se Benfica e Sporting eram ou não representações oficiais daqueles clubes. É mais ou menos certo que não, relativamente ao Sporting, já que a sua secção de xadrez só seria criada em 1958. As várias participações de equipas leoninas em provas disputadas entre as décadas de 40 e 50 eram aparentemente formadas ad hoc por jogadores sportinguistas do GXL. Um pouco mais difícil de perceber é a natureza da equipa do Benfica. Foi só dois anos depois, depois do segundo triunfo do SLB no Campeonato de Lisboa (em 1941, saiu vencedor o Instituto Superior Técnico), que a Direcção do Benfica entendeu tornar oficial e dar instalações à secção de xadrez. No entanto, em 1940 a equipa já foi incluída, como campeã lisboeta, num jantar de comemoração das vitórias do clube, realizado em Julho. Nessa ocasião, foi objecto de uma referência especial no discurso do presidente do clube, Augusto da Fonseca Júnior, além de ter merecido uma grande ovação por parte dos adeptos presentes.
O núcleo de xadrez da cidade, o Grupo de Xadrez de Lisboa, que funcionava numa sala da Sociedade de Geografia, não participou, como tal, neste campeonato. A razão é que eram daquele clube muitos dos jogadores que formaram diversas equipas, permitindo assim a realização de um torneio com 8 conjuntos. Esta concepção e a organização da prova foram de Luis Lupi, que então dirigia a Sociedade de Propaganda de Portugal – uma entidade criada em Lisboa, em 1906, com o objectivo de modernizar a cidade pelo turismo –, em conjunto com o Grupo de Xadrez de Lisboa.
A classificação deste I Campeonato de Lisboa, que era determinada pela soma dos pontos de tabuleiro e não pelos pontos de encontro, como sucede hoje, foi a seguinte:
O forte domínio encarnado também se mostrou nos resultados individuais: os 5 xadrezistas que constituíam a equipa do Benfica (Carlos Pires não chegou a jogar) ficaram entre os 7 jogadores com percentagem mais elevada.
Na decisão entre o 2º e 3º lugares, pesou decisivamente a vitória do Técnico sobre o Sporting no encontro directo, por 3-1. Há que dizer que o nível técnico não era brilhante – ou, pelo menos, não o foi nesta prova, se de alguma maneira as partidas escolhidas para publicação na RPX são representativas do melhor que se jogou no torneio. As partidas têm comentários do respectivo vencedor (JM ou AMP), complementadas com notas do Stockfish (SF) ou meus (RP). #
2 Comments
Por António Mendes Curado, Coimbra, 17-05-2020
Nesta ânfora famosa, com a assinatura de Exekias, oleiro e pintor grego de Attika, é representado um episódio que sai da tradição dos poemas homéricos: Aquiles e Ajax, jogando algo de acordo com uma interpretação antiga. Esta ânfora constitui um dos exemplos mais refinados da técnica com figuras negras. Os detalhes e a decoração das roupas são gravados com cuidado caligráfico. O ceramista foi capaz de capturar, no seu estilo tipicamente solene, o momento em que os dois heróis, por um instante abandonaram as armas durante o longo cerco de Troia e se entregaram a uma atividade lúdica. Aquiles e Ajax estão sentados em suportes baixos e inclinam-se para uma base, enquanto estendem a mão direita para ler os pontos que alcançaram (jogo de dados), respetivamente quatro e três, conforme indicado. Embora não haja consenso sobre o jogo que Aquiles e Ajax disputam (Dados, Damas ou Xadrez), existem outras ânforas com representação semelhante onde se vêem pequenas peças bidimensionais.
por António Mendes Curado, Coimbra, 30-12-2003
Nasceu na ilha de Bourbon, hoje em dia com o nome de Réunion (Reunião), neto de Bertrand François Mahé, conde de La Bourdonnais (Saint-Malo 1699 – Paris 1753), marinheiro e administrador francês, governador das ilhas da França (ilhas Maurice e de Bourbon). Derrotou os Ingleses em Madrás em 1740 e contribuiu para o estabelecimento dos interesses franceses na Índia.
Louis-Charles foi enviado para França para continuar os estudos no Liceu Henri IV em Paris. Descobre o xadrez em 1814 - Napoleão estava então na ilha de Elba - e frequenta assiduamente o Café de la Régence, onde se tornou aluno de Alexandre Louis-Honoré Deschapelles, então o melhor jogador de França. O aluno depressa ultrapassou o mestre, que abandonou o xadrez pelo jogo de cartas, o whist.
Em 1821 defrontou a três, John Cochrane 7 - 0 e Deschapelles 6 – 1. Em 1823 defrontou Lewis ganhando com um resultado de 5 – 0. Em 1825 dirige-se pela primeira vez à Inglaterra, onde ganha a todos os jogadores que o defrontam. Em Julho casa com uma senhora inglesa, Eliza Waller Gordon. De volta a Paris, em 1831, encontra a ruína, pois descuidara os seus negócios. Pondera então a ideia de viver exclusivamente do xadrez. Em 1833, em Paris, publica em dois volumes « Le Nouveau Traité du Jeu d'Echecs », obra que será traduzida para russo e espanhol. De volta a Londres em 1834, defronta numa série de 6 “matches”, que ultrapassaram os quatro meses de duração, o jogador irlandês Alexandre McDonnell (Belfast 1798-1835), considerado então como o melhor do Westminster Chess Club, de Londres (fundado em 1831 por George Walker) e de todo o Reino Unido. La Bourdonnais bate-o largamente com um score de +45 -27 = 13 e passa a ser considerado como o melhor jogador do mundo. [deixamos abaixo um dos mais famosos jogos dessa série de encontros, N. do E.] O seu estilo vigoroso põe em prática os ensinamentos de Philidor e reconhece plenamente a importância do centro. Isto fez dele um grande estratega, sem perder de vista a visão táctica. As partidas dos seus “matches” foram publicadas e comentadas, contribuindo indubitavelmente para o desenvolvimento posterior do jogo do xadrez. Em 1836, com Joseph Mery, fundou Le Palamède, a primeira revista inteiramente consagrada ao xadrez. No fim da vida é assombrado pela doença e por dificuldades financeiras. Em 1840 volta pela terceira vez a Londres, onde alguns amigos lhe arranjam emprego no Simpson's Divan. Ainda disputa algumas partidas de xadrez em público, mas está cada vez mais doente e morre em 13 de Dezembro de 1840. As autoridades da ilha de Bourbon concederam-lhe, um pouco tarde, uma pensão de 3000 F. Mas a sua viúva jamais verá qualquer franco. Tal como McDonnell, está sepultado em Kensal Green.
por António Mendes Curado, Coimbra, 2008-08-09
Estes selos da República da África do Sul, emitidos em 1960 e 1961 com valores diferentes depois de ser adoptado o sistema decimal, nada tem a ver com o jogo do xadrez. No entanto, as figuras representadas são parecidas com: Tarrasch, Blackburne, Smyslov, Botvinnik, Capablanca, e Leonard Barden. As figuras retratadas são antigos primeiros-ministros da Africa do Sul e o último do lado direito é Hendrik Verwoerd. Vem isto a propósito de ter visto numa exposição de selos de xadrez, já lá vão uns anos, onde foi incluído um selo sobre determinada personagem famosa com o seguinte comentário: "– personagem famosa que não sabia jogar xadrez." Mas personagem deste selo da Mongólia, sabia e foi uma das melhores…
Este selo da Mongólia, de 1986, dedicada ao Campeão do Mundo de Xadrez, reproduz a imagem do 4º Campeão - Alexandre Alekhine, e a posição de uma partida sua, jogada em Baden Baden em 1925 contra Richard Reti, ( 28-05-1889, 06-06-1929). O selo tem um erro ( lance 40... Cd4), o peão que se encontra em h7 deve estar em f7.
Reti, jogador austro-húngaro nascido em Pezinok e mais tarde de nacionalidade Checoslováquia, morreu em Praga, de escarlatina. Ligado ao seu nome, a Abertura Reti ainda hoje é famosa 1. Cf3 d5 2. c4 Kasparov considera esta partida um verdadeiro diamante, mesmo uma das mais brilhantes da história do xadrez e que conquistou o coração de milhões. Alekine considerou esta partida uma das melhores da sua carreira. Por curiosidade não recebeu qualquer prémio de beleza, porque nesse torneio não havia prémio de beleza. Notas: 1 - Informações retiradas do livro de Garry Kasparov, Os Meus Grandes Predecessores, volume I, Editora SOLIS, SP Brasil, versão em português, 2004. ISBN 85-98628-01-08
por António Mendes Curado, Coimbra, 2008-07-13
Num passado distante, Portugal ingressou nos anais enxadristicos[1] graças ao trabalho pioneiro realizado pelo boticário Pedro Damião. Nascido na segunda metade do século XV, na localidade de Odemira, pertencente à província lusitana de Alentejo, esse personagem quase lendário, mais conhecido pela denominação italiana de Pietro Damiano[2], saiu do anonimato para as páginas da história do xadrez, em decorrência do lançamento em Roma, no ano de 1512, da obra de sua autoria intitulada Questro libro e da imparare giocare a scachi et de le partiti ("Este livro é de aprender a jogar xadrez e ler partidas").[3] Escrito em italiano e espanhol, contendo aberturas, finais, problemas, partidas e até mesmo recomendações estratégicas e táticas – este livro mereceu o reconhecimento dos principais estadistas da época, sobressaindo pelo seu ineditismo e valor didático. Há muitos anos, figura entre as mais cobiçadas raridades enxadristicas, constando existir apenas um exemplar na biblioteca Queriniana de Bréscia, na Itália. Já nos dias atuais, a pátria de Damiano aparece novamente reivindicando a paternidade de uma interessante contribuição teórica. Com base nos lances iniciais 1.e4 e5 2.Bb5!?, uma plêiade de jogadores portugueses efectuou um obstinado trabalho de pesquisa, compreendendo a sistematização dessa curiosa variante e culminando em 1990 com a edição do livro "A Abertura Portuguesa", elaborada a quatro mãos por António Ferreira e Pedro Paulo Sampaio. Sem pretender tirar o brilho de tão louvável iniciativa, mas movido unicamente pelo intuito de estabelecer a real origem desta inusitada ideia, empreendemos uma viagem no túnel do tempo e encontramos na vetusta revista alemã Deutsche Schachzeitung, em seu número de Fevereiro de 1904, a transcrição de uma partida jogada em 20.01.1904, no Campeonato do Clube de Xadrez de Viana, entre Carlos Schlechter x Ricardo Teichmann, com o seguinte comentário elucidativo referente ao lance 2 Bb5: Naturlich von Alapin vorgeschlagen; Weiss beabsichtigte, even. Se2 nebst f4 zu spilen (Naturalmente, uma continuação devida a Alapin; as Brancas planeiam jogar eventualmente Ce2, seguido de f4”). Diante desta constatação, verifica-se que a glória de ter idealizado a continuação-chave 2.b5!? Cabe ao teórico e mestre russo Simão Alapin (1856-1923), enquanto que os méritos do estudo, prática e divulgação dessa interessante linha de jogo pertencem aos engenhosos xadrezistas lusitanos. Uma prova evidente disso é a seguinte partida disputada entre o mestre português Rui Dâmaso d’Almeida e o seu colega brasileiro Herman Clausdius van Riemsdijk, por ocasião do Torneio Internacional do Clube de Xadrez São Paulo, em maio de 1989. Notas: [1] A presente transcrição segue na íntegra, o texto em português do Brasil. [2] Pietro Damiano arcebispo de Óstia, que em 1061 numa carta dirigida ao Papa Alexandre II condenou os eclesiásticos nomeadamente o Bispo de Florença por jogarem xadrez e este ser considerado um jogo de azar, muitas vezes confundido com o autor Damiano Portugese. [3] LIVRO PARA APRENDER A JOGAR XADREZ, edição CAMPO DAS LETRAS, Introdução e tradução de Nuno Sá, 2008 – ISBN 978-989-625-298-4 Referências: 1. Introdução retirada do livro de Ronaldo Câmara, “NO MUNDO DOS TRABELHOS” edição de 1996, UFC CASA DE JOSÉ DE ALECAR PROGRAMA EDITORIAL. 2. LIVRO PARA APRENDER A JOGAR XADREZ, edição CAMPO DAS LETRAS, Introdução e tradução de Nuno Sá, 2008 – ISBN 978-989-625-298-4 |
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