por António Mendes Curado, Coimbra, 2008-07-13
Num passado distante, Portugal ingressou nos anais enxadristicos[1] graças ao trabalho pioneiro realizado pelo boticário Pedro Damião. Nascido na segunda metade do século XV, na localidade de Odemira, pertencente à província lusitana de Alentejo, esse personagem quase lendário, mais conhecido pela denominação italiana de Pietro Damiano[2], saiu do anonimato para as páginas da história do xadrez, em decorrência do lançamento em Roma, no ano de 1512, da obra de sua autoria intitulada Questro libro e da imparare giocare a scachi et de le partiti ("Este livro é de aprender a jogar xadrez e ler partidas").[3] Escrito em italiano e espanhol, contendo aberturas, finais, problemas, partidas e até mesmo recomendações estratégicas e táticas – este livro mereceu o reconhecimento dos principais estadistas da época, sobressaindo pelo seu ineditismo e valor didático. Há muitos anos, figura entre as mais cobiçadas raridades enxadristicas, constando existir apenas um exemplar na biblioteca Queriniana de Bréscia, na Itália. Já nos dias atuais, a pátria de Damiano aparece novamente reivindicando a paternidade de uma interessante contribuição teórica. Com base nos lances iniciais 1.e4 e5 2.Bb5!?, uma plêiade de jogadores portugueses efectuou um obstinado trabalho de pesquisa, compreendendo a sistematização dessa curiosa variante e culminando em 1990 com a edição do livro "A Abertura Portuguesa", elaborada a quatro mãos por António Ferreira e Pedro Paulo Sampaio. Sem pretender tirar o brilho de tão louvável iniciativa, mas movido unicamente pelo intuito de estabelecer a real origem desta inusitada ideia, empreendemos uma viagem no túnel do tempo e encontramos na vetusta revista alemã Deutsche Schachzeitung, em seu número de Fevereiro de 1904, a transcrição de uma partida jogada em 20.01.1904, no Campeonato do Clube de Xadrez de Viana, entre Carlos Schlechter x Ricardo Teichmann, com o seguinte comentário elucidativo referente ao lance 2 Bb5: Naturlich von Alapin vorgeschlagen; Weiss beabsichtigte, even. Se2 nebst f4 zu spilen (Naturalmente, uma continuação devida a Alapin; as Brancas planeiam jogar eventualmente Ce2, seguido de f4”). Diante desta constatação, verifica-se que a glória de ter idealizado a continuação-chave 2.b5!? Cabe ao teórico e mestre russo Simão Alapin (1856-1923), enquanto que os méritos do estudo, prática e divulgação dessa interessante linha de jogo pertencem aos engenhosos xadrezistas lusitanos. Uma prova evidente disso é a seguinte partida disputada entre o mestre português Rui Dâmaso d’Almeida e o seu colega brasileiro Herman Clausdius van Riemsdijk, por ocasião do Torneio Internacional do Clube de Xadrez São Paulo, em maio de 1989. Notas: [1] A presente transcrição segue na íntegra, o texto em português do Brasil. [2] Pietro Damiano arcebispo de Óstia, que em 1061 numa carta dirigida ao Papa Alexandre II condenou os eclesiásticos nomeadamente o Bispo de Florença por jogarem xadrez e este ser considerado um jogo de azar, muitas vezes confundido com o autor Damiano Portugese. [3] LIVRO PARA APRENDER A JOGAR XADREZ, edição CAMPO DAS LETRAS, Introdução e tradução de Nuno Sá, 2008 – ISBN 978-989-625-298-4 Referências: 1. Introdução retirada do livro de Ronaldo Câmara, “NO MUNDO DOS TRABELHOS” edição de 1996, UFC CASA DE JOSÉ DE ALECAR PROGRAMA EDITORIAL. 2. LIVRO PARA APRENDER A JOGAR XADREZ, edição CAMPO DAS LETRAS, Introdução e tradução de Nuno Sá, 2008 – ISBN 978-989-625-298-4
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