por António Curado, Maio de 1999
A 30 de Novembro de 1979, a República do Mali emitiu uma série de selos sobre Grandes Mestres de Xadrez. O selo de 200 F foi sobre Schlage, ilustre desconhecido dos grandes meios escaquísticos e provavelmente um jogador de segunda categoria, pois desconhece-se qualquer torneio em que figurasse em 1º ou 2º lugar. O selo de 200 F da República do Mali representa na realidade um jogador alemão de segundo plano de nome Willi Schlage (1888-1940). E a pergunta que se coloca é: porquê? Que de importante fez, para que se tornasse famoso e digno de aparecer num selo do Mali? Aparentemente nada, pois das vezes que disputou alguns torneios a sua classificação foi quase sempre mais próxima do fundo da tabela que do cimo e o seu melhor resultado foi um 3º lugar no campeonato alemão de 1921, mas o realizador do filme 2001 - Odisseia no Espaço, Stanley Kubrick, recentemente falecido, imortalizou-o ao escolher uma das suas partidas para figurar no filme. Essa partida jogada, segundo Irving Chernev no livro “The 1000 Best Short Games of Chess”, em Hamburg em 1910 e, numa base de dados da ChessBase, em Chicago, EUA, em 1910, foi adaptada ao filme na sequência em que o supercomputador de bordo HAL 9000 desafia o astronauta, Frank Poole, para uma partida de xadrez, enquanto vão de viagem para Júpiter. Stanley Kubrick escolheu com segundas intenções a partida de Willi Schlage assim como o nome do supercomputador, HAL, ao colocar o supercomputador a ganhar de pretas, com a intenção de demonstrar que este é imbatível. “Schlagen” em alemão significa tal como em inglês “to beat”, derrotar ou esmagar: “Ich schlage dich”, ou “I beat you”. Tem ou não algo de curioso, o ter sido escolhida uma partida de Schlage para o filme 2001 - Odisseia no Espaço? E ter ficado na História do xadrez e ser um jogador do meio da tabela? E ter sido escolhido o nome de HAL para o supercomputador? Basta seguir as letras do alfabeto para encontrar a chave: HAL (+1=IBM)!
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Por António Mendes Curado, Coimbra, 17-05-2020
Nesta ânfora famosa, com a assinatura de Exekias, oleiro e pintor grego de Attika, é representado um episódio que sai da tradição dos poemas homéricos: Aquiles e Ajax, jogando algo de acordo com uma interpretação antiga. Esta ânfora constitui um dos exemplos mais refinados da técnica com figuras negras. Os detalhes e a decoração das roupas são gravados com cuidado caligráfico. O ceramista foi capaz de capturar, no seu estilo tipicamente solene, o momento em que os dois heróis, por um instante abandonaram as armas durante o longo cerco de Troia e se entregaram a uma atividade lúdica. Aquiles e Ajax estão sentados em suportes baixos e inclinam-se para uma base, enquanto estendem a mão direita para ler os pontos que alcançaram (jogo de dados), respetivamente quatro e três, conforme indicado. Embora não haja consenso sobre o jogo que Aquiles e Ajax disputam (Dados, Damas ou Xadrez), existem outras ânforas com representação semelhante onde se vêem pequenas peças bidimensionais.
por António Mendes Curado, Coimbra, 30-12-2003
Nasceu na ilha de Bourbon, hoje em dia com o nome de Réunion (Reunião), neto de Bertrand François Mahé, conde de La Bourdonnais (Saint-Malo 1699 – Paris 1753), marinheiro e administrador francês, governador das ilhas da França (ilhas Maurice e de Bourbon). Derrotou os Ingleses em Madrás em 1740 e contribuiu para o estabelecimento dos interesses franceses na Índia.
Louis-Charles foi enviado para França para continuar os estudos no Liceu Henri IV em Paris. Descobre o xadrez em 1814 - Napoleão estava então na ilha de Elba - e frequenta assiduamente o Café de la Régence, onde se tornou aluno de Alexandre Louis-Honoré Deschapelles, então o melhor jogador de França. O aluno depressa ultrapassou o mestre, que abandonou o xadrez pelo jogo de cartas, o whist.
Em 1821 defrontou a três, John Cochrane 7 - 0 e Deschapelles 6 – 1. Em 1823 defrontou Lewis ganhando com um resultado de 5 – 0. Em 1825 dirige-se pela primeira vez à Inglaterra, onde ganha a todos os jogadores que o defrontam. Em Julho casa com uma senhora inglesa, Eliza Waller Gordon. De volta a Paris, em 1831, encontra a ruína, pois descuidara os seus negócios. Pondera então a ideia de viver exclusivamente do xadrez. Em 1833, em Paris, publica em dois volumes « Le Nouveau Traité du Jeu d'Echecs », obra que será traduzida para russo e espanhol. De volta a Londres em 1834, defronta numa série de 6 “matches”, que ultrapassaram os quatro meses de duração, o jogador irlandês Alexandre McDonnell (Belfast 1798-1835), considerado então como o melhor do Westminster Chess Club, de Londres (fundado em 1831 por George Walker) e de todo o Reino Unido. La Bourdonnais bate-o largamente com um score de +45 -27 = 13 e passa a ser considerado como o melhor jogador do mundo. [deixamos abaixo um dos mais famosos jogos dessa série de encontros, N. do E.] O seu estilo vigoroso põe em prática os ensinamentos de Philidor e reconhece plenamente a importância do centro. Isto fez dele um grande estratega, sem perder de vista a visão táctica. As partidas dos seus “matches” foram publicadas e comentadas, contribuindo indubitavelmente para o desenvolvimento posterior do jogo do xadrez. Em 1836, com Joseph Mery, fundou Le Palamède, a primeira revista inteiramente consagrada ao xadrez. No fim da vida é assombrado pela doença e por dificuldades financeiras. Em 1840 volta pela terceira vez a Londres, onde alguns amigos lhe arranjam emprego no Simpson's Divan. Ainda disputa algumas partidas de xadrez em público, mas está cada vez mais doente e morre em 13 de Dezembro de 1840. As autoridades da ilha de Bourbon concederam-lhe, um pouco tarde, uma pensão de 3000 F. Mas a sua viúva jamais verá qualquer franco. Tal como McDonnell, está sepultado em Kensal Green.
por António Mendes Curado, Coimbra, 2008-08-09
Estes selos da República da África do Sul, emitidos em 1960 e 1961 com valores diferentes depois de ser adoptado o sistema decimal, nada tem a ver com o jogo do xadrez. No entanto, as figuras representadas são parecidas com: Tarrasch, Blackburne, Smyslov, Botvinnik, Capablanca, e Leonard Barden. As figuras retratadas são antigos primeiros-ministros da Africa do Sul e o último do lado direito é Hendrik Verwoerd. Vem isto a propósito de ter visto numa exposição de selos de xadrez, já lá vão uns anos, onde foi incluído um selo sobre determinada personagem famosa com o seguinte comentário: "– personagem famosa que não sabia jogar xadrez." Mas personagem deste selo da Mongólia, sabia e foi uma das melhores…
Este selo da Mongólia, de 1986, dedicada ao Campeão do Mundo de Xadrez, reproduz a imagem do 4º Campeão - Alexandre Alekhine, e a posição de uma partida sua, jogada em Baden Baden em 1925 contra Richard Reti, ( 28-05-1889, 06-06-1929). O selo tem um erro ( lance 40... Cd4), o peão que se encontra em h7 deve estar em f7.
Reti, jogador austro-húngaro nascido em Pezinok e mais tarde de nacionalidade Checoslováquia, morreu em Praga, de escarlatina. Ligado ao seu nome, a Abertura Reti ainda hoje é famosa 1. Cf3 d5 2. c4 Kasparov considera esta partida um verdadeiro diamante, mesmo uma das mais brilhantes da história do xadrez e que conquistou o coração de milhões. Alekine considerou esta partida uma das melhores da sua carreira. Por curiosidade não recebeu qualquer prémio de beleza, porque nesse torneio não havia prémio de beleza. Notas: 1 - Informações retiradas do livro de Garry Kasparov, Os Meus Grandes Predecessores, volume I, Editora SOLIS, SP Brasil, versão em português, 2004. ISBN 85-98628-01-08 por António Mendes Curado
Recebi de um amigo, jogador de xadrez por correspondência, uma das mais belas peças filatélicas do tema xadrez. Nos dias que correm, jogar xadrez por correspondência é acima de tudo um acto de muita coragem e perseverança. Por um lado, há bons programas de xadrez capaz de bater muitos Grandes Mestres, por outro, há a esperança de que se está a jogar com alguém que à partida, utiliza as mesmas armas e não um sofisticado programa informático. Mas por vezes temos boas surpresas. As amizades, os estudos das aberturas, os contactos e as cartas circuladas, justificam essa coragem. Foi o que aconteceu. Nas cartas do meu amigo apareceram selos de xadrez vindos da Hungria. Tratei logo de solicitar alguns exemplares e qual não foi a surpresa ao receber esta maravilhosa peça filatélica composta por 64 selos de 50 HUF, que representam um tabuleiro de xadrez, com as peças numa determinada posição que mais não é do que a “Defesa Húngara”, da abertura italiana, jogada pela primeira vez por correspondência, entre uma selecção da França e da Hungria, entre 1842-1845 e que redundou numa vitória, para a Hungria, nas duas partidas jogadas. Cada um dos selos tem uma inscrição microscópica, de 1600 caracteres, que lida de um modo correcto, horizontalmente, desde a8 até h1, relata os principais acontecimentos e menciona as mais influentes personalidades da História do Xadrez da Hungria. Os selos foram postos em circulação em 24 de Setembro de 2004 e por incrível que pareça ainda não vieram mencionados em nenhuma das revistas filatélicas que conheço assim como em nenhuma revista dedicada à temática de xadrez. Coimbra, 2005-04-18 |
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